Em Matemática, a partir dos diálogos que temos estabelecido com docentes da área, percebemos uma ênfase à necessidade de se avaliar não apenas o que o profissional sabe e o que não sabe em termos de “conhecimento do conteúdo”. Sugere-se, também, um olhar atento às concepções desses professores sobre o ensino da Matemática, de modo a superar paradigmas que marcam o seu “saber fazer” e o seu “saber agir”. Nesse sentido, o portfólio pode ser um momento importante de reflexão sobre a formação, as posturas e os olhares desse profissional em relação ao ensino da Matemática. Por exemplo, é comum que professores tenham posições céticas acerca do pensamento computacional e das metodologias ativas, que são demandas formuladas pela Base Nacional Comum Curricular (BNCC) para a Matemática. Sendo assim, a avaliação docente poderia ser um estímulo para que professores superem paradigmas que dificultam a adoção de práticas e saberes importantes e se atualizem mais em relação às demandas atuais.
No que diz respeito à Língua Portuguesa, professores têm ressaltado que o componente costuma concentrar muitas atividades articuladoras em projetos com outros da área de Linguagens. Isso pode pode fazer com que a avaliação do professor ou da professora de Língua Portuguesa tenha demandas que extrapolam seu campo de atuação e conhecimento, o que exige cuidado e foco na escolha e na construção do instrumento a ser utilizado.
Além disso, professores têm mencionado diferenças na apropriação das novas propostas de ensino da língua a partir da BNCC, principalmente quando se observa profissionais de gerações diferentes, como no caso da Matemática. O tradicional ensino da língua portuguesa, a partir da gramática prescritiva, e o da literatura nacional, fundamentado no estudo de autores e obras situados em movimentos literários, passaram por grandes transformações a partir da BNCC. Em seu lugar, encontramos hoje propostas de estudos linguísticos em perspectivas contemporâneas e a estudos literários com recortes temáticos, abordagens transversais, interdisciplinares e transnacionais. Portanto, a definição dos referenciais a serem alcançados, bem como a própria construção da matriz de referência, devem contar com a participação de professores das redes, de forma transparente e com ampla divulgação. Isso porque a avaliação de docentes não pode ser uma forma de penalizar professores que ainda não se atualizaram à BNCC, mas uma oportunidade para que possam fazê-lo de forma gradual e voluntária.